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Crítica: Edith (2015)


O curta “Edith”, dirigido e roteirizado pelo piauiense Flávio Guedes, conta a história de Severino da Silva Ferreira, um nordestino que sai do sertão, onde mora sua família, para tentar a vida em São Paulo. O curta começa com a imagem de Severino fazendo uma caipirinha, bebida típica nordestina, e rezando em frente a um altar improvisado na sua casa, mostrando a religiosidade do personagem.


Ao se descrever como “baitola”, Severino afirma que vive uma vida dupla, onde para a sociedade ele é "Severino, nordestino cabra macho", mas entre quatro paredes vira Edith, com seus longos cabelos louros e maquiagem carregada. O personagem diz que jamais teria coragem de sair na rua transformado, e que resta a ele, na solidão da sua casa, fantasiar como seria a vida sendo Edith. Nas palavras dele próprio, é impossível saber onde termina Severino e onde começa Edith.


Durante o curta percebemos a transição de Severino para Edith. Um dos nomes do protagonista, e que também é o nome da obra, é em homenagem à cantora francesa Edith Piaf. Nos 16 minutos de duração da película é possível ouvir a trilha sonora de Piaf, nos remetendo a fascinação do personagem pela cantora. Além disso, temos a presença de Marcel que a visita e a aceita como é. Este personagem sempre aparece com o rosto coberto por uma máscara e usando peruca, retratando a sua insegurança em mostrar-se como realmente é, mesmo que seja para seu amor Edith.


Os enquadramentos das cenas e o foco usado confundem o espectador na medida em que usa um plano fechado, deixando de lado particularidades do ambiente que poderiam ajudar no entendimento do protagonista. Ao mesmo tempo, esse mesmo plano deixa um ar de mistério, que nos leva a ter curiosidade sobre quem seria Severino além do que é dito por meio da sua fala.


A obra aborda de forma gloriosa o tema da homossexualidade reprimida. Por medo de não ser aceito pela sociedade, Severino guarda para si o seu anseio de ser Edith, deixando que ela só aflore quando está sozinho ou na companhia de um de seus amantes, mas sempre entre quatro paredes. Esse tema que por muitas vezes é esquecido no mundo cinematográfico ao abordar os homossexuais quase sempre de forma caricata ou cômica, traz um ar de seriedade ao documentário, expondo o drama que é para o protagonista ter que lidar com a dualidade da sua personalidade.


Assista o curta de Flávio Guedes:


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